Alma nova



Não lavaste os seios,
por terem o calor da minha mão!
Não lavaste as mãos,
por terem o cheiro do meu corpo!
Não lavaste o corpo,
por ter os rastros dos meus gestos!
Tinha também, o meu corpo,
a sagrada profanação do teu olhar!
Que não lavaste.
Nem aqueles lençóis, não os lavaste?
nem os espelhos,
que continuam onde sempre estiveram:
porque eles nos viram cúmplices,
e a paixão, nosso paraíso, essa lavaste?
Eu lavei, lavei e perfumei a alma, em jasmim,
que é tua, só tua, para te esperar
como se nunca tivesses ido a nenhum lugar:
donde apaguei todas as ausências
que apaguei ao te olhar.
Lava tudo isso, podes apagar,
logo haverá mais, outras razões pr'a recordar.
E ai depois, podes não lavar.
que eu até irei gostar
lavar teu corpo com o olhar
e teu cheiro enalar,
cheiro a fêmea, cheiro á'mar.
Alma nova irei então ganhar!

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