Rasguei as entrelinhas


Rasguei as entrelinhas do poema,
Roubei muita beleza ao conteúdo;
Revendo-te na glória, que é suprema
Razão do meu querer-te... Revia tudo...

Rasguei. Nem sempre o faço, foi excepção
Recordo, de escrever, tenho outro modo:
Rumando a conquistar teu coração
Revelo o que há no meu, o tempo todo.

Rirás, sei que rirás, ou sem surpresa,
Receberei igual se me deres troco;
Repara que te quero em tal grandeza
Rasguei já receando de me achares louco.

Refeito, se me provir, de tal loucura,
Revelações farei, de tudo. Em suma,
Reescrevendo, verás outra postura,
Reponho as entrelinhas uma a uma.

Mas, com nova postura, ou sem ela,
Lavro aqui poemas, contando tudo,
Este que por ti, me borra a tela,
Mostra mesmo assim seu conteúdo.

Alma nova



Não lavaste os seios,
por terem o calor da minha mão!
Não lavaste as mãos,
por terem o cheiro do meu corpo!
Não lavaste o corpo,
por ter os rastros dos meus gestos!
Tinha também, o meu corpo,
a sagrada profanação do teu olhar!
Que não lavaste.
Nem aqueles lençóis, não os lavaste?
nem os espelhos,
que continuam onde sempre estiveram:
porque eles nos viram cúmplices,
e a paixão, nosso paraíso, essa lavaste?
Eu lavei, lavei e perfumei a alma, em jasmim,
que é tua, só tua, para te esperar
como se nunca tivesses ido a nenhum lugar:
donde apaguei todas as ausências
que apaguei ao te olhar.
Lava tudo isso, podes apagar,
logo haverá mais, outras razões pr'a recordar.
E ai depois, podes não lavar.
que eu até irei gostar
lavar teu corpo com o olhar
e teu cheiro enalar,
cheiro a fêmea, cheiro á'mar.
Alma nova irei então ganhar!

Sem perceberes...

Não percebes, aproximo-me,
Sussurrando aos teus ouvidos...
Desejos inconfessos.
Como o silvo de uma serpente,
Que te enfeitiça e domina.
Enrosco-me em teu corpo,
Por detraz, ambicioso
E ofereço-te meu veneno...
Que te sirvo em meus lábios.
Minha língua atrevida
Percorre teu corpo.
Teu peito rígido
Denuncia tua entrega.
E te sugo o néctar,
Exploro o teu corpo.
Com a língua numa constante.
Lambo-te o sal do corpo
Minha boca ansiosa
Te suga o mel.
Revelo-me a ti,
Ao toque de minhas mãos.
Teus seios intumescidos,
Desejosos de minha boca.
És minha musa.
Já não seduzo...
Sou seduzido.