jasm953: 08/04/07

Passo por cá

Passo por cá!
Pela pesquisa,
Pelo quase tocar da síntese,
Pelo entendimento,
Pelos segredos,
Pelos medos,
Pelos trilhos,
Pelos vestígios,
Pela aparência

Passo por cá!
Pela solidão auxiliada,
Pela tristeza acariciada,
Pela revelação sufocada

Passo por cá!
Tão próximo,
Em voo quase rasante,
Numa demanda incessante,
Em dúvida galopante…

Passo, ando certamente por cá!

Falta-me tempo

Falta-me tempo para longos passeios
Para ver os netos nos recreios
Admirar aquele museu que espero
Ler os livros que tanto quero

Me falta tempo para mirar as garinas
Para aprofundar as amizades felinas
Falta-me tempo para dispor o escaparate
Jogar coisas fora, evitar algum disparate

Falta-me tempo para aprender japonês
Retratar em textura aquilo que não vês
Tempo para as aguarelas imaginárias
Preciso anotar as coisas mais primárias

Me falta tempo para tudo e até para viver
Tempo para os amigos que não posso ver
Tempo para o estrangeiro e ilhas a alcançar
Falta tempo para as rimas que a poesia deixar

Falta-me tempo para ver os programas de TV
Ou gravar aquela música num CD
No entanto quantas vezes estou aturdido
Sem nada para fazer, em sonhos perdido

Saudade

Saudade é muitas vezes
A flor que nasce d’um botão,
O mar bravio,
A imensidão,
Uma noite de frio,
Alguma canção,
E até meus versos de solidão...

Saudade é a tarde fugindo,
É a noite surgindo,
Trazendo a dor que consome...

Saudade é ver a lua saindo,
Lá longe no mar surgindo,
Riscando em prata o teu nome!

Saudade, eu te digo:
É como a dor inclemente,
Só sabe mesmo é quem sente..."

Vou fazer-te um apelo

Vou fazer-te um apelo de siso
Para juntos visitarmos o paraíso,
Divagando em torno dos astros,
Largando no céu nossos rastros.

Vou esperar-te nas águas do mar,
Ai juntos possamos mergulhar
E descobrirmos a vida encantada
Disfarçada nas águas, da vida

Espero-te dentro de mim,
E deixarei que me cultives
Por um tempo sem fim.
Sente amor que em mim vives,

Vem mergulhar em meus medos
Que há muito te esperam, em mim
Deixa-me sonhar teus segredos
Sorrir, viver, amar-te assim

Dúvidas

Tuas dúvidas? Não quero ouvir.

Conta-me apenas as tuas certezas ainda que incertas.

Deixa que eu curta um pouco mais essas flores que a vida me enviou de surpresa.

Não me digas teus segredos, nem eu digo os meus.

Não revelamos os nossos negativos em preto e branco, nem os nossos coloridos por mais maravilhosos que sejam.

Sem exposição do ontem, sem comparações com o anteontem, sem planeamento para amanhã.

Nada de listas de triunfos, muito menos dos fracassos.

Nada de chorar os quase que não se completaram, nada de imaginar que agora é sem, quase e completo.

Apenas pega a chave e abre as minhas algemas antigas, tira os espinhos de meus pés e ensina-me o atalho que leva a minha boca até aos teus seios, até aos teus lábios.

Até ti.

Silencia-me com o teu gesto de carinho Desligaremos qualquer sistema do planeta, atenderemos as chamadas de nossos corpos, salvo se for Deus na linha, avisando que chegámos ao final dela.

Amar demais

Amar de mais leva as pessoas a aceitar e desculpar todo o tipo de atitudes dos outros, como por exemplo a falta de respeito, a humilhação, a mentira ou a traição. Mas como podemos nós ser respeitados se não nos respeitamos a nós próprios? Como qualquer outra dependência, esta tendência para dar, agradar e até para tentar mudar os outros pode levar as pessoas a um grande sofrimento. Trata-se aqui de viver a vida e os sentimentos dos outros e, quanto maior for a tentativa de controlo sobre os outros, maior se torna o descontrolo de si próprio, e a sua dependência dos outros. A “co-dependência” leva muitas pessoas a viverem em outo-anulação e se não tomarem consciência dos seus padrões destrutivos e autodestrutivos, podem chegar a viver uma vida inteira convencidos que são traços da sua própria personalidade ou acreditando que a vida é mesmo assim. Amar de mais tem como características, como qualquer outra dependência, a obsessão e a compulsão, o que leva uma pessoa a viver em função de outra ou de outros, por mais destrutiva ou disfuncional que seja a relação. Alguém que se deixe dominar por estes padrões cognitivos e comportamentais perde a liberdade de pensar e agir em função dela própria, dos seus valores e princípios. Esses padrões tornam-se autênticos vícios. Amar demais não nos dá amor nem liberdade, mas talvez, ansiedade, desgaste, medo, raiva e culpa. É uma luta constante no sentido de dar, de agradar, mudar e salvar os outros para nos sentirmos úteis, necessários e muitas vezes imprescindíveis. Fazemos tudo o que está ao nosso alcance para atingirmos os nossos objectivos, mesmo que para isso seja necessário idealizarmos o outro ou até mesmo culpabilizarmo-nos para desculpabilizar o outro.Fazemos tudo em função do outro ou da relação e esquecemo-nos de nós próprios e da nossa relação connosco.Consequentemente, tudo aquilo que serve de base para uma boa relação connosco próprios, logo com os outros e com a vida, fica esquecido. A minha referência é à auto-estima, autoconfiança, auto controlo, segurança, limites, etc. Esquecemo-nos de nós, do que é bom para nós, do que nos faz sentir bem. Pensamos em dar e muitas vezes não nos lembramos de receber. Viver em função de algo que nos traz angustia e sofrimento é, sem sombra de dúvida, um caminho auto destrutivo que vamos percorrendo se não conhecermos ou não nos ensinarem outro.

«Amar de mais»