Um dia anularei todas as pontes


Um dia anularei todas as pontes
Que atam o meu ser vivo e integral,
À efervescência do mundo irreal,
E calmo escalarei até às nascentes.

Irei até às causas onde amora
A plenitude, o cristalino fulgor
Que me foi jurado em cada hora,
Como figura inacabada do amor.

Irei tragar a chama e o alvorecer
Irei beber a súplica dessa promessa
Que em opção num voo me atravessa,
E nela consumarei todo o meu ser.

Farei da razão o avesso dum clamor
E num grito atroz direi somente
Que a vida em mim sinta e atente
Dos meus motivos, o aquém amor

Raiar


Tal com a noite, aquela amiga se enegrece
Fica longe, quase morta, como que distante
Sem ter certeza de ninguém, ou de alguma prece
Resta-me a sensação de me sentir bem doente,

De um mal sem dor, que se fendesse
Um sentimento ímpio, pungente

E os raios do sol cantam, no raiar suavemente
Um grito aqui, ali um pranto
Gilda no ar uma andorinha dormente
Como que acordada, suave e secretamente

A solicitude nublada e autêntico do ambiente.
A mover-se sobre penumbras, mansamente,

Mais para lá! No fim da aurora, além da bruma.
Meus sonhos rompem, frágeis, leves como espuma.
Pondo-me a tecer frases de amor, uma por uma
Silenciosos, como alguém que se acostuma

Poemizar de dia, se a noite é calma
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