Quem de vós dirá


Se fujo quero voltar
Fica longe o sol que sonho
Se fico morro de amar
São decisões que eu engonho

Nem com pós de perlimpimpim
Posso encurtar esta hora
Como é breve o sol em mim
Nem me aquece o corpo agora

Amigos aqui são bastantes
Mais além tenho outros tantos
Mas já não é como era dantes
Andam sonhos pelos cantos

Daqui, vejo fugir com pressa
Este sonho não é mais feliz
Esta ideia de ir não cessa
Quem dirá “fica” e mo diz

João Morgado

Quem és tu?


Quem és tu, doce mulher?
Chegas num sonho qualquer
Nem marcas deixas nas horas
E és sangue que em mim afloras

És da vida o mais fruto
Gritando a dor em bruto
Que, tão bem falas ciúme
E desse amor que é lume

Que arde sem se ver
Como li Camões escrever
És um caso de mistério
Que a sorrir falas a sério

Sonhos que jogas no peito
Com o qual eu me deleito
Num gritar a peito feito
Clamando razões de respeito

Em veemente exclamação
Matança de uma flor que é pão
Não queres calar a desgraça
Clamando à vida que passa

Neste mundo tão imperfeito
Nem calas o preconceito
Mas quem és tu, afinal?
Que mordes feito animal

És gente?
E sendo pessoa, que sente
És normal?
Ou algum ser irreal?

Não preciso explicação!
Só reclamo magia.
Que enquanto houver coração
Mesmo sem explicação
Vai existir poesia!

Não fora eu, um romântico
Que segundo reza o tântrico
Vou continuar escrevendo
E, tu amor, me vais lendo!


João Morgado